23 de maio de 2011

Como o Dia e a Noite

E aí ele disse a ela: - Eu sou intenso.

E ela replicou com firmeza: - Não, você mata as pessoas. Você as prende e castra. Isso é intensidade?


E ele ficou olhando para ela com aquele olhar duro que ela bem conhecia e que a fazia sentir calafrios só de estar perto. Depois de algum tempo ele piscou, tirou os óculos do rosto, limpou na camisa marrom e disse:

 - Ninguém vive sem ser TODO. E para ser todo é preciso ter duas partes como Yin-Yang, como o claro e o escuro, como o Sol e a Lua, como o dia e a noite, como. Você não quer ser só, quer?

E ela ficou de boca aberta durante algum tempo e depois retrucou: - Isso não é ser TODO. É puro desespero. Imagina. Eu não sou intensa e não conheço nada desse TODO que você fala ou desse Triângulo Invertido que uma vez você me falou e me disse que os pontos se ligam e você pode ser o que quiser.

Ele arregalou os olhos e disse: - Não sabia que você havia prestado tanta atenção a isso. Acho que você não absorveu tudo, mas...

 - Olha, ela disse a ele, eu cansei de te ouvir falar disso e não quero mais nada. Só ir embora agora. E depois, sou aos poucos e não acredito nesse negócio de intensidade mórbida. 

Ele ouviu tudo de olhos arregalados e depois retrucou: - Vai. Você é uma louca por jogar tudo fora.

Ela pensou em dizer para ele que nunca houve o TODO e que é preciso mais do que simples teoria para se viver a dois. Preferiu se abster e seguir em frente.

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