17 de maio de 2011

O Mesmo Caminho de Sempre

       E o Zé que como sempre fazia todas as vezes. Comeu um pão seco que estava em cima da mesa e bebeu seu gole de café matinal. Foi à sala e pegou sua bicicleta com os pneus já desgastados. 


       Arrumou a marmita gelada que sua companheira fazia todas as noites. Selou o bagageiro. Abriu a porta de casa enquanto sua esposa ainda dormia. Fez o sinal da cruz como de praxe. Fechou a porta da frente e jogou a chave pela brecha da madeira. E foi assim. Depois ele subiu na bicicleta. Não. Não. Antes ele disse alguma coisa para o vizinho. Algo como:

- Olha, teu timinho de bosta não resistiu ao meu.

      E aí sim ele subiu na bicicleta com seus pneus desgastados e a tintura do guidom desbotada, ele pintou em casa semana passada. E ele se foi às 7 da matina. A mesma calma de sempre. O mesmo pensamento. A mesma calça comprida de ontem. E foi. E pedalou alguns metros até chegar perto de uma casa com uma árvore na frente. Grande a árvore. Foi lá. Lá em frente à casa que ele recebeu uma bala no peito e morreu. E com a mesma calma de sempre ele caiu da bicicleta. Só que agora ele não podia mais levantar. No chão. Um a um: ele de um lado e a fiel escudeira de outro. E ninguém. Ninguém a acudir. Nem a polícia a vir. E a demora. E ele lá deitado. Frio. O rosto claro. Gordo. Careca. E não mais vai comer a comida de ontem. E não mais vai jogar a chave pela brecha da porta. Como sempre.

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