18 de julho de 2012

O Poder das Coisas: #1

o poder que a palavra tem sobre as coisas



Ilustração: Alesson Felipe
Moacyr se senta à beira da estrada e olha seu carro parado em plena manhã de domingo; se tivesse feito uma revisão antes de sair de casa não estaria agora debaixo do Sol a pino. Revolve os bolsos e vê a sua carteira, nem imaginava, há duas horas atrás, que estaria naquela situação.

Moacyr levanta, revolve o carro, pega seu caderno e uma caneta no porta-luvas, senta na beira da estrada e se põe a escrever. Moacyr faz isso com um intento que ninguém, em sã consciência, o interromperia. Mas se o Moacy fosse mesmo esperto, ficaria era dentro do carro,  mas talvez isso o fizesse perder a carona, caso alguém tivesse a bondade de ajudá-lo. O Moacyr é um daqueles jovens que gosta de ver a palavra nascer, crescer e se desenvolver porque palavra não morre. Palavra se recria, se funde, se desenvolve em frase e texto como o prego que se funde à madeira. Palavra é pressa e calmaria, é a carpintaria que envolve a caneta e o papel.

E de repente o Moacyr se vê diante de um texto imenso, lindo e cheio de reviravoltas. Quando está para concluir, o telefone toca. Ah, o telefone. Ele atende e uma voz rouca do outro lado da linha pergunta onde ele está; corra porque o almoço já vai ser servido. “Onde estou, oh querida mãe, o meu carro, o meu carro quebrou e eu esqueci de ligar”. Oh, o meu carro. Então Moacyr volta à realidade e, na verdade, aquela é a sua realidade. Todos os dias Moacyr mergulha no universo ficcional. Moacyr, já na adolecência, tornou-se escritor. Inicialmente escrevia contos infantis, hoje ele escreve grandes romances policiais. Moacyr fez da palavra o seu trabalho. E o seu descanso hoje, amanhã é  considerado trabalho árduo para muitos.

Moacyr pega o celular e liga para o reboque e pensa enquanto espera: Todo esse episódio daria uma grande história e, com toda certeza, chamaria a atenção do público se, no meio disso tudo, houvesse uma pitada de suspense. Moacyr suspira, é hora de ir pra casa da mãe, o reboque chegou.

3 comentários:

  1. Edilma que conto bacana.
    As palavras são mesmo falantes.
    Xeros

    ResponderExcluir
  2. Certa vez escrevi em um texto que o leitor traça o destino do escritor e não o contrário. Afinal, é em função do leitor que o escritor dá vida às palavras. O seu conto faz esse trajeto "Todo esse episódio daria uma grande história e, com toda certeza, chamaria a atenção do público se, no meio disso tudo, houvesse uma pitada de suspense". O Escritor pensa o tempo todo em como mimar o seu leitor :) Beijus,

    ResponderExcluir

Você pode dizer muito ou quase nada; pode apenas fincar as suas unhas e aranhar a minha janela ou derrubar as cortinas, não tem problema: mostre que você está vivo! Obrigada por estar aqui!