28 de setembro de 2012

Rua da Coragem

Muita coragem me falta neste instante, mas ela sempre está lá. Levanta, senta. Senta, levanta. As mãos apressadas e trêmulas, as roupas molhadas de tanto trabalho em casa: roupas no varal limpas e aromáticas, comida na panela de dar gosto o cheiro do tempero. E o aroma se espalha pela casa afora até atravessar as cortinas e chegar à vizinhança. E muita coragem me falta, menos a ela que está lá sentada em sua cadeira de balanço. E ela estava lá, fim de tarde, sentada em sua cadeira; cachimbo na mão direita, olhar distante e umas baforadas violentas em direção à janela. Devia estar pensando no tempo em que morou na rua da coragem.