25 de abril de 2013

A Carta que Atravessa o Tempo

Viajar junto com milhares de objetos só para me ver. Você, às vezes, me surpreendia. Confesso que vez ou outra me pegava tomada por um certo incômodo ante a espera de uma resposta a um questionamento que demorava meses pra chegar até mim e isso, claro, me causa certa ansiedade. Rasuras, cores de canetas variadas, desenhos imperfeitos: assim era você, assim éramos nós. Agora, neste instante, uma saudade imensa invade o meu peito, sinto em cada palavra escrita os seus lábios: ainda tenho as cartas anteriores guardadas na gaveta de cabeceira. Éramos tão felizes, tão sorridentes, tão... Ah, como me toma inteira essa vontade de estar em seus braços. Como me consome a memória a lembrança dos seus traços salientes em cada começo de frase. Suas cartas sempre bem-vindas em momentos inesperados e esperados. As suas histórias, a nossa história. 

 A história que aguardo chegar há anos e não chega. Não chega porque você decidiu não mais viajar dias para chegar até mim. Eu não entendo a sua decisão, mas penso que deve ter uma explicação plausível. E, neste momento, só me sobram questionamentos: Como vou medir o tempo? Como vou contar as horas? Estou desaprendendo a contar e a medir por conta dessa sua decisão infeliz. A paráfrase não faz mais parte da minha narrativa. Quando encostava o nariz nos papéis especiais, que você usava para escrever para mim, sentia você mais perto. Tão perto que me derretia ante a possibilidade de estar ao seu lado. E agora? O aliado da nossa conquista está em constante desuso: o carteiro com uma gama de cartas com selos diversos. Agora só me restam as cobranças e o entulho de informativos de vereadores que fingem preocupação com a população: são essas as cartas que recebo na atualidade. Nossas histórias perderam o endereço, o número da casa e o CEP, perderam a cola que unia as duas partes do envelope. Nos perdemos na história.

 Essas mudanças inesperadas, a inovação tecnológica quebraram a sequência apaixonante das suas palavras: era bom poder esperar por você em versos e em letras apressadas; urgentes nas primeiras linhas e mais calmas no segundo parágrafo. Dava pra sentir a expectativa do seu querer só de visualizar, durante a leitura, a cadência de suas frases. Me pergunto o que aconteceu com aqueles seus versos cheios de carícia e compreensão, eles despareceram como desapareceu a sua vontade de escrever pra mim em formato de cartas. Peço, encarecidamente, para não sucumbir à rapidez das coisas, ao efêmero. Peço que você se perca nas composições e voltes a sua lembrança ao tempo em que mandávamos cartas um ao outro.

3 comentários:

  1. É minha cara, eu confesso que ainda sou refém desses pequenos prazeres: envelopes, folhas, lapiseira e uma tarde se desfazendo lá fora... Gosto do ato da escrita demorada a entregar para o outro o prazer do existir que eu alcanço. Levar até o outro um pouco do que tenho pra mim. Afinal, dividir é a melhor maneira de somar... rs

    bacio

    ResponderExcluir
  2. Me perco em meus papéis. Os textos que escrevo passam antes por eles, depois chegam ao computador... É pelo prazer de ver minha letra, meus rabiscos...

    Beijos Lunna! Bom quando chegas aqui!

    ResponderExcluir
  3. Ainda escrevo cartas, mas não cartas de amor! Essas eu nunca escrevi.
    Compactuo com o comentário da Dalva. Senti o quanto uma carta pode comprovar a dedicação e o afeto atribuído à um amor!
    Boa semana!!
    Beijus,

    ResponderExcluir

Você pode dizer muito ou quase nada; pode apenas fincar as suas unhas e aranhar a minha janela ou derrubar as cortinas, não tem problema: mostre que você está vivo! Obrigada por estar aqui!